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PDT confirma candidatura de Ciro Gomes à presidência

O PDT realizou sua Convenção Nacional nesta quarta-feira (20) e aprovou, por unanimidade, o nome de Ciro Gomes como candidato da sigla à presidência nas eleições do fim do ano.

O ato ocorreu na sede nacional da sigla, em Brasília, logo no primeiro dia do período para realização das convenções partidárias, conforme calendário do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Ex-ministro, ex-governador, ex-deputado e ex-prefeito, o pedetista vai disputar o Palácio do Planalto pela quarta vez.

Em 2018, Ciro Gomes ficou em terceiro lugar na disputa presidencial, com mais de 13 milhões de votos.

Candidato anti-polarização

A campanha aposta no lema “vote em um e se livre dos dois”, em referência ao ex-presidente Lula (PT) e ao presidente Jair Bolsonaro (PL), que segundo o ex-ministro, representam um “vazio de ideias”.

O mesmo pode ser notado na estratégia publicitária, que carrega a assinatura “Prefiro Ciro” e foi estampada por toda a sede nacional do PDT, em Brasília, nesta quarta.

O evento contou com a presença de lideranças de todo o país, incluindo candidatos do PDT a governo estaduais como Leila Barros (DF), Roberto Cláudio (Ceará), Rodrigo Neves (RJ), Carol Braz (AM), Vieira da Cunha (RS), entre outros.

Propostas

Ciro Gomes fundamenta sua candidatura em um Projeto Nacional de Desenvolvimento, publicado em livro pelo ex-ministro em 2020, no livro “Projeto Nacional: O Dever da Esperança”.

Além disso, o pedetista tem reiterado algumas propostas, entre elas:
– Revogar o teto de gastos;
– Revisar o tripé macroeconômico (meta de inflação, câmbio flutuante e meta fiscal);
– Rever a autonomia do Banco Central;
– Revisar a política de preços de combustíveis da Petrobras;
– Investir em escolas federais de tempo integral;
– Implementar um programa de renda mínima universal;
– Criar um complexo industrial da saúde para a produção de medicamentos.

Ciro Gomes também propõe a criação de um plano emergencial de pleno emprego para gerar 5 milhões de vagas nos dois primeiros anos de governo.

Além disso, o ex-ministro propõe:
– Regulamentação do imposto sobre grandes fortunas, com alíquota seria progressiva para patrimônios acima de R$ 20 milhões;
– Tributação de lucros e dividendos de grandes empresas;
– Implantação de um caráter progressivo no imposto sobre heranças;
– Redução do conjunto de impostos sobre a renda a dois impostos gerais, o de pessoa física e o de pessoa jurídica.

Confira o discurso de Ciro Gomes, na íntegra, abaixo:

“Queridas Companheiras e Queridos Companheiros,

Não me cabem outras palavras, neste momento, senão agradecer e enaltecer.

Agradecer e enaltecer ao meu querido PDT que se manteve unido, em torno do meu nome, em um momento de tanta desunião em nossa pátria.

Agradecer e enaltecer à minha querida mulher, Giselle, e toda minha linda família, que vêm me apoiando e dividindo grandes sacrifícios nesta luta.

Agradecer e enaltecer ao meu amigo de fé, meu irmão, camarada, o nosso presidente Carlos Lupi, homem profundamente comprometido com as bandeiras do PDT e com as melhores causas pelo Brasil.

Agradecer e enaltecer à minha militância, a Turma Boa, os mais aguerridos combatentes do debate de ideias e da paz democrática.

Agradecer e enaltecer à toda minha equipe pela dedicação e empenho.

Agradecer e enaltecer ao povo brasileiro por manter esta nação viva e por ter tido paciência de escutar minha mensagem.

E agradecer e enaltecer sobretudo a Deus, que na sua sabedoria e misericórdia, tem me protegido e me dado alento e inspiração para seguir sempre em frente.

Minhas irmãs e meus irmãos,

Permitam-me começar revelando uma conversa particular que tive com um amigo há poucos dias.
Profissional bem-sucedido, ele me perguntava:

“Ciro o que leva uma pessoa experiente, e sabedora das coisas, querer ser presidente neste Brasil de hoje, um país tão cheio de dificuldades e conflitos?”.

Talvez por delicadeza, ele não tenha completado: “e o que faz você prosseguir em uma candidatura com tantos obstáculos e cercada de armadilhas?”

Eu disse a ele que quatro palavras me moviam.

As mesmas quatro palavras que moveram toda minha vida: fé, paixão, coragem e desafio.

Fé e paixão pelo Brasil, pelo povo brasileiro e pela política.

Coragem para enfrentar qualquer tipo de risco.

E espírito desafiador capaz de desafiar qualquer desafio.

Este jogo redundante de palavras, “desafiador capaz de desafiar qualquer desafio”, não é mote do repente de algum cantador, mas um talismã poético da minha vida de brasileiro e nordestino.

Com ele nasci, com ele cresci, e com ele, certamente, morrerei algum dia.

Venho de uma estirpe que sintetiza duas culturas de trabalho e resistência.

Minha mãe era do interior de São Paulo, território que acolheu imigrantes de vários cantos do mundo e migrantes de muitas partes do Brasil.

Meu pai a conheceu ainda pobre migrante nordestino, que fora para as terras paulistas em busca da sobrevivência.

Mas esta junção da força paulista e da garra nordestina fez dos dois vencedores.

Do tipo especial de vencedores – daqueles que vencem na vida e ajudam muitos outros a vencer.

Sou de uma geração que acompanhou na primeira infância o final glorioso do governo de Juscelino, depois a agonia política de Goulart e enfrentou, na juventude, os tempos de chumbo da ditadura.

Fui um político jovem que teve os privilégios simultâneos de participar ativamente da reconstrução democrática do país e lutar pela modernização de um estado, até então um dos mais pobres e politicamente atrasados do Brasil- o meu querido Ceará.

Fui um dos humildes e jovens lavradores que ajudaram a replantar, no solo brasileiro, a sementinha da democracia.

Esta plantinha tenra, tão bem definida na metáfora do grande Otávio Mangabeira, avô do meu dileto amigo e conselheiro Roberto Mangabeira Unger.

Esta plantinha tenra que mais uma vez está sendo açoitada por tempestades. Mas que sobreviverá.

Ainda muito jovem tive o privilégio de lutar pela democracia ao lado de próceres do calibre de Ulysses Guimarães, Mario Covas, Franco Montoro e daquele titã que mora no coração de todos nós pedetistas, o imortal Leonel de Moura Brizola.

No Ceará, tive a honra de ser o prefeito mais jovem de capital, e o desafio de reconstruir Fortaleza, destruída pela incompetência de um partido que não sabia governar e que, até hoje, não aprendeu direito.

Em seguida, também como governador mais jovem da história, tive a dupla honra de continuar a obra modernizadora de Tasso Jereissati e de ajudar a acabar com a “era dos coronéis” no nosso estado e abrir, como nunca, espaço para mulheres na vida pública.

Não obstante, as repetidas fakes news insistam em chamar de “coroné” a este humilde soldado da democracia e do desenvolvimento.

O mesmo soldado da democracia que teve a coragem de assumir o Ministério da Fazenda, a convite do injustiçado presidente Itamar Franco, e ajudou a salvar o Plano Real que começava a afundar.

Fui o ministro da Fazenda mais jovem da história do país e, mesmo em curto tempo de mandato, consegui estabilizar a economia, acabar com o descontrole que reinava no sistema financeiro, cobrar impostos sobre lucros e dividendos, e implantar a medida que permite a participação dos trabalhadores nos lucros das empresas.

Como fiz em todos os cargos públicos que ocupei -e o farei em qualquer outro que venha ocupar- deixei o país com pleno equilíbrio fiscal.

Como governador e prefeito nunca gastei mais do que arrecadei e não tive um só dia de déficit fiscal.

Apesar de todo empenho de como enfrentei e corrigi déficits financeiros, a minha maior luta, permitam-me a imagem de retórica, foi sempre contra o déficit social.

Para tristeza dos brasileiros, o Brasil está perdendo feio a luta nestas duas frentes.

Seu déficit financeiro e seu déficit social aumentam a cada dia, e, no círculo vicioso da incompetência, do oportunismo e da bandidagem, tenta-se sempre corrigir um agravando o outro.

Sem falar do agravamento do déficit moral que contamina historicamente as nossas relações políticas.

Ou seja: somos vítimas, mais que nunca, da falta de vergonha, do roubo e da exploração da pobreza, dosados pela insensibilidade e mediocridade da classe dirigente.

Minhas irmãs e meus irmãos,

Nunca o Brasil empobreceu tanto e tão rápido -material e espiritualmente – como nos últimos anos.

Por isso o compromisso que assumo perante meu partido -que acaba de me honrar com a indicação à presidência da República- e principalmente com o povo brasileiro -que, espero, me dê a honra de me eleger presidente- é lutar contra esta realidade cruel, para vencermos, juntos, esta batalha de vida ou morte.

Nunca o país teve um presidente tão insensível e incompetente como o que ocupa atualmente o Palácio do Planalto.

Usar e emporcalhar são os melhores verbos para definir seu método de permanência.

Porque ele não trabalha, não pensa, não executa ações em favor do povo brasileiro.

Ele apenas usa como pocilga o belíssimo palácio desenhado por Niemeyer.

E parece estar disposto a tudo para fazer dele seu acampamento de guerra híbrida.

Viajo pelo Brasil inteiro e pergunto às pessoas: vocês conhecem algum grande hospital, escola, estrada que Bolsonaro tenha feito aqui em seu estado?

A resposta é um sonoro não!

Pergunto a eles: vocês conhecem alguma fábrica, algum grande investimento que Bolsonaro tenha trazido para seu estado?

A resposta é outro sonoro não!

Pergunto a eles: vocês já assistiram algum gesto de carinho, empatia ou compaixão deste presidente?

A resposta é mais um sonoro não!

Pergunto agora a vocês: alguém aqui já viu alguma decisão ágil, precisa, tomada no momento certo e em favor das pessoas certas, por este ser hediondo?

Seguramente não.

E olha que nesta plateia há algumas das mais atuantes e bem-informadas pessoas da República.

Mas todos estamos a ver, diariamente, um festival de mentiras, agressões, desmandos e manipulações de toda espécie.

Assistimos, esta semana, o mais horrendo espetáculo de apologia da ditadura e de vexame internacional já feito por um presidente em toda nossa história, e talvez na história do mundo moderno civilizado.

E estamos assistindo, nos últimos meses, a mais desavergonhada tentativa de permanência no poder já feita por um presidente, ao usar, da forma mais criminosa possível, este maléfico instrumento chamado reeleição.

Para isso, usa, de um lado, a mão pesada da repressão e da ameaça. De outro, usa a mão ágil do estelionato eleitoral.

A mão pesada, de autocrata, é a que cria mentiras sobre a segurança das urnas e insinua intervenção armada.

A mão ágil, de larápio, é a que moldou a famigerada PEC Kamikaze, o maior estelionato eleitoral da nossa história.

Esta mesma mão já havia costurado acordos com parte do Congresso e construído, juntos, um bunker de obscuras transações: o famigerado Orçamento Secreto.

E as duas mãos já haviam coaptado setores das Forças Armadas atraídos por benesses e mordomias que não dignificam a farda.

Mas todo este esforço será em vão, pois as benesses fugazes serão engolidas pelo abismo da grande miséria que toma conta do país.

E a sabedoria popular vai salvar nosso povo de ser enganado por esmolas distribuídas às pressas -e de última hora- por um governante que ignorou os pobres durante todo o governo, e, na pandemia, provocou a mortandade de centenas de milhares de brasileiros.

Um crime pelo qual ele irá responder, junto com outros, em tribunais livres e soberanos.

Minhas amigas e meus amigos,

Bolsonaro tem imensa culpa em tudo que está acontecendo, mas ele não é apenas causa.

Ele é também efeito.

Ele é efeito de um modelo econômico e de uma escola corrupta de governar que encaminharam o país, com pouquíssimos altos e muitíssimos baixos, para uma tragédia anunciada.

Este modelo foi tão enganador e improvisado que aos poucos foi descontentando a todos e alimentando frustrações e ressentimentos em amplos bolsões das várias camadas sociais.

Este modelo mal-acabado de neoliberalismo tropical começou há quase trinta anos, foi camuflando uma crise crônica, lenta e corrosiva durante os 14 anos do PT, até que ela se tornou aguda e insuportável.

Este modelo econômico, de uma elite ao mesmo tempo neocolonizada e neoescravista, menosprezou os pobres todo tempo – seja com políticas compensatórias ou seja com puro desprezo.

E notabilizou-se pelo privilégio dado aos banqueiros em detrimento dos que produzem.

Seu modelo social é o “pobrismo”, que significa, entre outras coisas, contentar os pobres com migalhas e transferir a verdadeira riqueza para os ricos.

No banquete dos ricos e restos para os pobres, Collor preparou a cozinha, Fernando Henrique serviu a mesa e Lula temperou a comida.

Dilma, Temer e Bolsonaro apenas requentaram o prato.

Todos, absolutamente todos, serviçais dos mesmos patrões. E seguidores da mesma receita.

Não se pode negar que durante alguns anos do PT, este modelo produziu curtos ciclos de crescimento e de diminuição da miséria. Mas sempre amparados pela bonança passageira das commodities.

Sempre voos de galinha em um país com céus e horizontes propícios a voos de águia.

Como eles não fizeram as reformas estruturais necessárias, e sacramentaram a forma corrupta de governar, tudo foi aos poucos desmoronando.

E a casa, como sempre, caiu na cabeça dos mais pobres e da classe média.

Infelizmente, neste país, é sempre o pobre que paga a conta. E a cada dia esta conta é mais alta.

Todos os presidentes mantiveram o infame tripé macroeconômico e sua tóxica política de juros, seja por inércia, por incompetência ou por submissão ao grande capital nacional e internacional.

A pretexto de conter a inflação mantiveram uma das taxas de juros mais altas do mundo. A pretexto de melhorar a arrecadação e a eficiência do estado, montaram um dos sistemas tributários mais burros e injustos do planeta, onde o pobre paga mais do que o rico e quem produz paga mais do que quem especula.

Vivemos agora a era amarga deste legado, com a economia estagnada, a fome e a miséria voltando a ficar crônicas, a educação de péssima qualidade, a saúde sucateada, o brutal endividamento das famílias, juros estratosféricos e a carestia tomando conta de tudo.

Hoje, mais de 31 milhões de irmãos brasileiros passam fome.

125 milhões não fazem as três refeições diárias.

104 milhões vivem só com 14 reais por dia.

10,6 milhões estão desempregados.

11,8 milhões de crianças de até 3 anos estão sem creche.

E 66 milhões de pessoas estão penduradas no SPC e no Serasa.

A classe média, que diminui cada vez mais, sofre também com as mensalidades do plano de saúde, da escola, dos aluguéis ou da prestação da casa própria.

Há um dado bastante curioso e significativo nisso tudo. Como o modelo econômico e a política social eram frágeis e equivocados, bastou um rápido vendaval, de uma direita ainda mais incompetente, para destruir por completo o tal legado dos governos de “esquerda”.

Um legado de fragilidade assustadora para quem governou longos 14 anos.

Mesmo assim, eles estão pedindo para voltar.

Será para produzir mais enganações e inconsistências?

Que milagre pode conseguir que eles façam, em quatro anos, aquilo que não fizeram em quatorze?

Nenhum milagre pode garantir isso, até porque os “santos” são os mesmos e eles estão, até, bem piorados.

Estão mais desatualizados, mais arrogantes e alguns até mais vorazes.

Os mais gulosos, com a síndrome de abstinência de quem ficou fora da comilança por algum tempo, querem se lambuzar de novo sob o olhar faminto de milhões de brasileiros.

Que grande ironia, eles pedirem para voltar, alegando que vão fazer o que não fizeram!

Que triste que tentem se aproveitar da fraca memória das pessoas para dizer que realizaram uma obra que não foi realizada.

Que cínico que se aproveitem da atual degradação -parte dela herança de seus erros- para avivar uma memória afetiva ilusória.

Será que acham que os 14 anos foram pouco tempo?

Para comparar, eu gosto de lembrar que, em menos tempo, Napoleão redesenhou a Europa e Alexandre agigantou o mundo grego.

Já aqui, em 14 anos, o lulismo pariu Bolsonaro.

Que obra monumental, não?

Companheiros e companheiras,

O Brasil chegou a esta situação porque esquerda e direita foram -e são- cúmplices do mesmo modelo.

E são incapazes de propor uma saída.

De abrir um novo caminho.

É por isso que Lula e Bolsonaro querem transformar esta eleição na mais vazia de debates e de confronto de ideias de todos os tempos.

O Brasil vive a pior crise de sua história e dois dos principais responsáveis por ela estimulam uma polarização vulgar, personalista e odienta, um alimentando o outro, um agredindo moralmente o outro, reduzindo tudo a uma trágica e ridícula disputa pessoal.

Essa polarização odienta, despolitizada e apaixonada não produz diagnósticos e soluções, apenas xingamentos morais e ideológicos.

Os dois disputam entre si quem é o mais corrupto, quem é o mais autoritário, quem é o mais fascista, quem é o mais comunista.

Xingam quem é o ateu, o abortista e o homofóbico.

É esta a pauta de discussão que eles têm a apresentar ao país?

São estes os problemas mais cruciais do povo brasileiro?

Onde estão as novas propostas para a educação, a saúde e a segurança?

Como farão o país crescer e gerar mais empregos?

O que farão para recuperar a indústria nacional?

O que farão para o futuro da Amazônia?

O que vão fazer para controlar a inflação sem produzir recessão e para baixar os preços sem gerar desabastecimento?

Vão matar a fome dos pobres distribuindo picanha e cerveja?

Vão resolver o problema da segurança distribuindo armas para todos?

Vão acabar a corrupção convidando os mesmos corruptos para que continuem, para que fiquem onde estão, como faz Bolsonaro?

Ou chamando aqueles velhos e manjados corruptos de volta, como Lula está fazendo?

Este vazio de propostas e este deserto de debates formam, sim, o painel da maior fraude eleitoral da história.

Este, sim, é o maior crime de lesa pátria de todos os tempos.

Esta postura de Bolsonaro e Lula não é apenas uma zombaria com o destino do povo brasileiro como também uma séria ameaça de que o caos possa tomar conta do país.

Que o Brasil vire uma anti-nação, um zumbi, um acampamento de eternos miseráveis a despertar a cobiça ou a compaixão do mundo.

Minhas amigas e meus amigos,

O atual quadro político é tão surreal e trágico que uma boa forma de o explicar -e de abrir os olhos das pessoas- é utilizar a literatura de terror.

Estamos vivendo uma realidade que mistura os ambientes e personagens dos célebres romances o Frankstein, de Mary Shelley, e O Médico e o Monstro, de Stevenson.

Lula está escrevendo uma versão política do Médico e o Monstro.

E Bolsonaro rascunha uma versão grotesca do Frankstein.

Igual ao médico Dr. Jekyll, Lula, que gosta de brincar de Deus, está gerando um monstro.

Bolsonaro, que gosta de brincar de diabo, está recolhendo os cacos do pior que restou da política brasileira e montando um Frankstein.

Os dois estão causando um mal terrível à política brasileira e estimulando seus seguidores a criar e estimular duas versões maniqueístas e doentias do “bem absoluto” e do “mal absoluto”.

Cada um diz que tudo de bem está do seu lado e tudo de mal está do lado do outro.

É o “nós e eles” em versão mista de farsa e de tragédia.

Por seus erros, Lula parece ter saído da prisão para aprisionar o Brasil em uma camisa de força.

Por sua má índole, Bolsonaro, que chegou ao poder pelo voto, quer usar o voto para destruir as eleições e a própria democracia.

Para isso, está fazendo uma criminosa engenharia reversa com a máquina mais modernizadora do nosso sistema eleitoral, a urna eletrônica.

Os seguidores dos dois lados ouvem a música encantatória dos seus líderes e mergulham em uma espécie de transe coletivo, envoltos, irracionalmente, em um neurótico conflito político que pode destruir o país.

No fundo, estamos vivendo uma versão repetida, piorada e ampliada, das eleições de 2018.

Será que o Brasil não percebe isso?

Será que intelectuais e políticos, tão maduros e competentes, vão continuar embarcados neste Titanic?

Minhas irmãs e meus irmãos,

Todos nós sentimos hoje, na pele, as consequências das eleições de 2018.

Não temos o direito de fazer o Brasil repetir este erro dramático, tentando, equivocadamente, corrigi-lo com um sinal invertido.

Primeiro, porque reduzir o debate a um embate pessoal é aumentar o clima de violência que divide o país.

Segundo, porque trocar pessoas, mesmo que de ideologias diferentes, mas que na essência praticam o mesmo modelo, é repetir o erro que vem sendo cometido há décadas e que levou o Brasil a viver o que estamos amargando hoje.

Só se pode unir verdadeiramente um país, e garantir paz duradoura, em torno de um novo projeto e de novas ideias.

E só podemos salvar o Brasil se sairmos do atual modelo econômico e se aniquilarmos a forma corrupta de governar.

Lula e Bolsonaro não defendem, e não podem defender este rompimento, porque se apoiam nestes dois mecanismos apodrecidos.

Neste ponto eles são bem parecidos.

Mudam apenas configurações, simbologias e emoções do mesmo modelo.

Eu sou bem diferente.

Eu quero unir o país em torno de um novo projeto e não em torno da minha pessoa.

Tenho trabalhado este projeto há anos, com a ajuda de centenas de estudiosos de várias áreas e correntes.

Com o Projeto Nacional de Desenvolvimento vamos vencer inúmeros desafios.

Ele está todo detalhado no livro “Projeto Nacional: O Dever da Esperança”, que publiquei o ano passado e vem sendo aperfeiçoado e complementado no dia a dia.

Nele, estabeleço metas claras, mostro de onde virão os recursos e como farei a negociação política com a sociedade, com o Congresso, com governadores e prefeitos.

Nosso projeto, o PND, baseia-se no capitalismo, no livre mercado e na democracia, mas com a convicção de que o Brasil não conseguirá sair da crise profunda em que se encontra se não tiver um estado vigoroso, indutor de crescimento econômico e da justiça social.

Um estado capaz de estimular a formação de uma forte poupança nacional, de desenvolver novas tecnologias e, muito especialmente, capacitar as pessoas pela educação.

O novo modelo que propomos no PND está baseado na produção – e não mais na especulação -, em uma nova política de juros, com taxas de mundo civilizado, baseada em metas que equilibrem índices de inflação com índices de emprego.

E em uma reforma tributária que vai corrigir as distorções que permitem, hoje, ao rico pagar menos imposto do que a classe média e o pobre.

O PND será uma mola propulsora do crescimento em curto, médio e longo prazo.

Para isto prevê mecanismos, em uma ponta, que reativem e modernizem a indústria nacional, renovando e recuperando parques existentes, e, na outra, estimulem a pesquisa e inovação para que o Brasil ingresse na era da Economia do Conhecimento.

Dá uma ênfase especial à defesa do meio ambiente, priorizando a pesquisa, o desenvolvimento e o uso de energias alternativas.

Neste ponto temos uma grande prioridade: transformar a Petrobrás na maior empresa de energia pura do mundo, além de salvá-la da pirataria da privatização e de acabar, logo no primeiro dia de governo, com a sua salafrária política de preços.

No entanto, a ação mais inovadora que pretendemos implantar em relação ao meio ambiente, é garantir a preservação e o futuro da Amazônia, produzindo um salto harmônico do extrativismo para a economia do conhecimento, com ênfase, inicial, no setor da farmacologia.

Só assim o Brasil pode acabar, de uma só vez, com a devastação, com a pobreza secular e com o conflito entre preservação e produção.

Minhas amigas e meus amigos,

O PND tem como um dos seus eixos a busca e garantia de um equilíbrio fiscal vigoroso, mas conseguido com políticas humanas e inteligentes, e não com mostrengos inibidores do crescimento e devoradores de vidas como o famigerado Teto de Gastos.

Trata-se de uma das medidas mais arbitrárias e elitistas já tomadas recentemente, pois corta apenas os investimentos na vida do povo e deixam intactos os juros absurdos pagos aos bancos.

Para se ter uma ideia, de um orçamento total de 4,8 trilhões, o governo deixa de fora do teto os 3 trilhões de juros, amortizações, renegociações e outras despesas financeiras que paga aos bancos -e que aumentam a cada dia- e aplica o teto de gastos apenas sobre o 1,8 trilhão que sobram para pagar todos os gastos necessários para a vida da população.

No final, restam parcos 25 bilhões para investimento.

Como se não bastasse, a engenharia perversa de Bolsonaro destinou, em 2022, 16,7 bilhões deste pouco saldo para o usufruto, sem controle, dos seus apoiadores, através do chamado “orçamento secreto”.

Com o PND será bem diferente.

O Estado voltará a ter estratégias de desenvolvimento e irá conduzi-las através de maciços investimentos em infraestrutura e em áreas sociais, livrando-se da ilusão de que nosso crescimento virá somente de investimentos privados ou estrangeiros, mito que nos condenou ao fracasso, especialmente nos últimos onze anos.

Esse novo modelo será baseado não mais no favorecimento dos mais ricos e nem em conchavos e esquemas de corrupção, mas sim na ampla mobilização popular e no diálogo transparente e honesto com todas as forças produtivas e políticas empenhadas em mudar o Brasil de verdade.

O PND vai promover reformas concretas e imediatas que negociarei nos primeiros seis meses de governo com o Congresso, governadores e prefeitos.

Para facilitar a negociação séria, honesta e transparente vou propor o fim da reeleição, abrindo mão deste direito, sem acréscimo de um só dia do meu mandato.

Será o fim desta praga que está matando a democracia brasileira!

E para retomar o ritmo de crescimento e investimento vou incorporar a estas primeiras medidas a renegociação das dívidas dos estados e municípios, a maioria, hoje, à beira da insolvência.

Os pontos de impasse serão submetidos a referendos populares, instrumento previsto na Constituição, mas quase nunca utilizado, o que tem limitado a participação popular nos rumos do país apenas às eleições.

Que agora, inclusive, estão sob ataque do tiranete de plantão.

Minhas queridas e meus queridos,

Muito tenho exposto e discutido sobre o PND nos últimos meses e pretendo avançar muito mais nesta campanha. Para não me alongar neste discurso, citarei rápidos tópicos que todos poderão ver mais detalhados e explicados no meu livro, no meu site, em centenas de vídeos já espalhados na Internet, e em materiais novos que apresentaremos na campanha.

De forma telegráfica, repetirei alguns deles.

Taxaremos as grandes fortunas, superiores a 20 milhões de reais. Mesmo com uma taxação moderada -50 centavos a cada 100 reais – arrecadaremos 65 bilhões por ano.

Vamos cobrar impostos sobre lucros e dividendos dos grandes empresários. No mundo, apenas três países, além do Brasil não cobram. Isso aumentará mais 50 bilhões de arrecadação por ano.

Como já falei antes, vou acabar a famigerada política de preços dos combustíveis da Petrobras, para que o brasileiro volte a pagar em real o combustível que hoje compra com base na cotação do dólar no mercado internacional de petróleo.

Esta decisão vai impactar todos os setores da economia, além do bolso de toda a população, em especial motoristas de aplicativos, caminhoneiros e taxistas.

Ainda falando do bolso do povo, vamos resolver o endividamento de 66 milhões de brasileiras e brasileiros que estão com nome sujo no SPC e no Serasa, renegociando suas dívidas com abatimento e parcelamento a juros baixos.

Para vocês terem ideia da importância desta medida, lembro que o consumo das famílias responde por 60% do PIB nacional. Se elas estão sem crédito, renda ou emprego é impossível reativar a economia.

Minhas irmãs e meus irmãos,

O Projeto Nacional de Desenvolvimento não busca exclusivamente colocar a nossa economia de pé.

Sua verdadeira meta e missão é colocar nosso povo de pé.

Toda a nação de pé.

Mas o PND virá, sobretudo, para devolver a dignidade, a esperança e a prosperidade aos mais pobres.

Por isso, ele vai convergir para dar suporte ao mais revolucionário programa de educação pública da história brasileira.

Assim como ajudei a provar que um estado pobre, como o Ceará, pode ter a melhor educação pública do país, quero ajudar a provar que o Brasil também pode, no médio e longo prazo, ter um dos melhores sistemas de educação pública do mundo.

Se no Ceará, com muito planejamento e continuidade, levamos 25 anos para conseguir isso, a minha meta, para o Brasil, é estarmos entre os dez melhores do mundo no espaço de 15 anos.

Repito: o Brasil pode e deve estar entre os dez melhores países do mundo em educação dentro de quinze anos!

Muitos não acreditaram quando eu disse, anos atrás, que o Ceará teria a melhor educação pública do Brasil.

Conseguimos isso porque nos unimos todos numa mesma causa.

Para lograrmos este êxito nacionalmente, temos que envolver toda sociedade neste esforço, cabendo ao governo federal liderar e articular, junto com governadores e prefeitos, um corpo técnico de excelência, conteúdo teórico de qualidade, novas formas de financiamento e uso de novas tecnologias de ensino.

Além de criarmos normas pétreas constitucionais, nas metas e métodos da educação, que não possam ser modificadas por qualquer governante ou partidos que venham a se suceder ao longo dos anos.

Ou seja, educação não é obra de um só governo, de um só partido, de um falso salvador da pátria.

Educação deve ser, sim, a salvação nacional!

Três braços serão fundamentais para realizar esta tarefa hercúlea e redentora: professores, famílias e alunato. E neste país, em que tanto tem se falado em parceria público-privada, está na hora de se usar corretamente esta prática na missão mais gloriosa da nossa história.

Só uma educação moderna e eficiente poderá garantir a melhoria de vida do nosso povo e a inserção do Brasil no cenário das nações mais desenvolvidas no mundo.

Por isso, a grande revolução que meu governo pretende fazer será a revolução na educação.

Tenho uma grande equipe estudando o tema e preparando um amplo projeto a ser discutido com o mundo acadêmico e a sociedade, propondo mudanças na filosofia educacional, métodos e modelos.

Para concluir, informo que muitos outros grandes projetos na área social e iniciativas de defesa dos interesses das camadas mais pobres serão ancorados no PND.

Entre dezenas deles, destaco o programa de Renda Mínima Universal Eduardo Suplicy, que vai englobar os pagamentos feitos pelo Auxílio Brasil, o Seguro Desemprego e a Aposentadoria Rural.

Essa medida, associada aos programas de geração de emprego e renda, será decisiva para combater a fome e a miséria no país.

Minhas amigas e meus amigos,

Finalizo renovando minha fé na democracia e na sua importância para a felicidade e a prosperidade do povo brasileiro.

A plantinha tenra descrita por Mangabeira tem que crescer e ter a força simbólica do Pau Brasil e a concretude, o porte, a altura a firmeza das gigantes das nossas florestas, como a Sumaúma, o Jequitibá, o Angelim-Vermelho, a Peroba-Rosa e a Gameleira.

Não haverá serrote, serra elétrica ou baioneta antidemocráticos capazes de derrubá-la, porque um gigantesco cordão humano, de milhões de brasileiras e brasileiros destemidos a protegerão com seus corpos e, se necessário, estarão dispostos a irrigá-la com seu próprio sangue.

Estarei na linha de frente desta luta tendo ao meu lado a pessoa que será minha vice e que, tenho certeza, trará alegria a vocês e esperança ao Brasil.

Vocês conhecerão esta pessoa em poucos dias.

Adianto que, no depender de mim, será uma mulher, porque sempre respeitei as mulheres e as tive sempre como companheiras inseparáveis na minha luta.

Nos últimos dias, se intensificaram nossos diálogos com forças democráticas insatisfeitas com a polarização que ameaça o país. O ritmo deve se acelerar nas próximas duas semanas.

Muita coisa ainda pode acontecer. Se enganam os que pensam que o tempo da política obedece ao mesmo compasso do tic-tac normal dos relógios.

Para de fato encerrar este discurso, digo, com sinceridade, que me orgulho muito do que já fiz na política.

E pretendo fazer ainda muito mais.

Mas tenho a coragem de pedir-lhes que não acreditem que os políticos possam, individualmente, resolver todos seus problemas.

Não existem salvadores da pátria!

O importante, então, não é só mudar os políticos.

É, sim, mudar a política.

É eleger políticos que queiram mudar a política!

Que queiram mudar a economia.

Que queiram acabar com o jeito corrupto de governar.

Se não fizermos isso, o Brasil continuará sendo um dos países que menos cresce no mundo e onde mais aumentam a desigualdade e a pobreza.

Porque todo o sistema político e econômico no Brasil foi criado para explorar e enganar os mais pobres.

Isso foi assim desde o início e se aprimorou muito mais nos últimos anos.

Nos últimos tempos, a bandidagem e a maldade se sofisticaram.

Os hipócritas, de direita e de esquerda, aprenderam novas formas de enganar o povo.

Isso tem levado o Brasil para trás. A cada ano, o Brasil perde de goleada para si mesmo.

Está na hora de invertermos este jogo.

Conclamo todos os brasileiros, de todos os quadrantes, a nos unirmos nesta luta.

A juntos recuperarmos o sentido glorioso de nosso destino e juntos devolvermos o Brasil a todas as brasileiras e a todos os brasileiros.

Viva o Brasil! Viva o Povo Brasileiro!”

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